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Capitulo II
Capitulo II

 

Uma tarde saí com Marlon antes da aula no Grupo. Ele tinha um tempo livre um pouco mais dilatado e eu aproveitei a chance para ajeitar também o meu horário de forma que pudesse estar com ele mais cedo.

Fomos ao Shopping e nos sentamos confortavelmente di

ante do café para bater papo. Já fazia um tempo que não fazíamos isso. Começamos mesmo só batendo papo mas daquela vez Marlon entrou de sola:

— Estamos quase encerrando o módulo teórico!

Parei o copo de coca-cola com gelo e limão à meio caminho da boca:

— Módulo teórico? — Eu ainda estava com a conversa anterior na cabeça.

— Sim. Nas aulas. — Esclareceu ele, sorrindo amistosamente. — Logo vamos começar a praticar um pouco de Magia, ao invés de apenas falar dela!

— Ah! Pôxa, Marlon, você consegue mesmo mudar de assunto, heim?!

Enquanto mergulhava a colher no café, recolhendo o chantilly que escorria derretido pelas bordas da xícara, Marlon continuou:

— Como você diria que está indo o seu aprendizado? Quer recapitular mais ou menos o que foi visto até aqui? A partir de hoje as aulas vão mudar um pouco.

— Chamadinha oral agora, é? — Retruquei com tom meio de troça.

— Você sabe que não precisa disso, Eduardo. De qualquer forma minha intenção de encontrá-lo mais cedo hoje foi com esse propósito.

Fiquei sério.

— OK. OK. Então, eu vou te dar aula, cara! Desta vez você é o aluno e eu o professor!

Ele cruzou as pernas e fez um gesto com as mãos, calmamente, como quem diz: “Prossiga. Sou todo ouvidos.”

Bebi o resto da coca-cola animado. Ajeitei-me melhor e bati com os dedos na mesa, sem perder meu senso de humor:

— Muito bem, aluno. Vamos à aula! Silêncio! — Limpei a garganta e procurei as melhores palavras. — Bom, Marlon, Vou tentar resumir ao máximo porque você mesmo sabe que aprendemos coisa prá caramba neste tempo todo! Quer dizer, eu aprendi, né? Você já sabia!

Marlon assentiu sem dizer palavra. Seus olhos apenas observavam-me profundamente.

— Temos “algo” adormecido dentro de nós... uma capacidade, uma força nata, um potencial. Em primeira instância, o objetivo é despertar isso! Despertar esse “oculto” dentro de nós. E aprender a usar esta força em toda a sua plenitude.

— Por quê?

— Ora... se só usamos uma pequena parte do nosso cérebro, da nossa energia, acabamos por viver uma vida medíocre e limitada. E prá quê isto? O despertar dessas forças dormentes e ocultas fará com que venhamos a descobrir também novos horizontes. E passemos a viver em maior plenitude. O caminho para atingir este objetivo vem através do que chamamos de Magia.

As palavras fluíam com rapidez sem que eu tivesse que parar para pensar muito. Aqueles conceitos estavam agora muito claros para mim, embora nada tivesse sido ainda vivenciado na prática.

— Magia não é “mágica”, como muitos incautos pensam. Magia é a arte de “canalizar forças”, tudo bem? Primeiramente a nossa própria força. Nossa energia dormente. Mais à frente, a Magia também possibilita o entrar em simbiose com outras forças, externas, com o mesmo objetivo.

— Que objetivo mesmo?

— Eu já te disse: é sempre o de potencializar capacidades dormentes. Seja desenvolvendo ao máximo a nossa força, seja permitindo um sincronismo dela com as forças do Universo, e mais tarde, com seres de outras dimensões! Enfim, prá resumir: em outras palavras, a Magia nos capacita a desenvolver poderes sobrenaturais.

— E como é que você explica isto?

— O “sobrenatural” só é sobrenatural porque o homem natural não entende e não explica. Mas nada mais é do que a liberação das capacidades dormentes que eu já comentei. — Olhei para Marlon e perguntei, zombeteiro. — Entendeu?

Ele continuou me olhando. Eu continuei:

— Veja só: toda criança recém-nascida sabe nadar, não é? Ela já nasce nadando, se deixarmos. Aliás, todo ser vivo nada, é um instinto natural. Só que a Sociedade bloqueia isso. Aprendemos a ver a água como sinal de perigo e passamos a ter uma espécie de comportamento... hum... comportamento condicionado! Assim, toda criança vai para a escola de natação para reaprender a nadar. Esta barreiras que são impostas, explícita ou implicitamente, limitam a nossa atuação. Mas são barreiras virtuais, e não reais. Digamos que a capacidade de nadar adormeceu, mas está lá! Esse, no entanto, é um exemplo limitado. Todo mundo sabe que o ser humano pode nadar, de um jeito ou de outro. O que quero dizer é que existem capacidades ocultas; isto é... nós nem suspeitamos que estão lá!

— Você poderia ser mais explícito? Me convença! Fale de pessoas, ou fatos, ou situações que provem que o homem pode realmente exercer poderes considerados “sobrenaturais”!

— Claro! Ora, isso foi tão exaustivamente enfatizado! Que tal as práticas tão divulgadas na Índia, os faquires que deitam sobre pregos ou andam sobre brasas e não se machucam? Você sabe que não é difícil a gente se cortar até com uma folha de papel, mas há quem possa mastigar vidro e não se cortar. A arte da levitação dos Monges Tibetanos é outro exemplo! Também os lhamas: eles são capazes de diminuir a tal ponto o seu metabolismo que podem entrar em estado cataléptico e até ser enterrados vivos. Os poderes de cura de certos pajés africanos são impressionantes. Pôxa, tanta coisa! Que mais? A maioria dos fenômenos considerados paranormais! Até no Kung Fu a gente vê isso, nas técnicas avançadas conhecidas como “Chikow”! Eu já vi algumas coisas que me deixam babando, Mestres que desenvolvem uma força tremenda para quebrar tábuas, tijolos e até pedras. Sem se machucar! Há uma infinidade de exemplos do que podemos chamar de “sobrenatural” espalhado em quase todas as culturas do globo. Isto quer dizer que tais coisas acontecem mesmo, são possíveis! Uns descobriram mais, outros menos, mas o fato é que estas capacitações especiais podem ser desenvolvidas. E nós vamos desenvolvê-las da melhor forma, através da Magia. Usando as técnicas certas atingiremos um desenvolvimento pleno e não somente parcial!

Marlon ainda insistiu um pouco:

— E a Ciência? Explica alguns desses fatos?

— Bem, a Ciência é uma “ciência limitada” e muitas vezes falha. Mas há algumas práticas que têm certo embasamento científico. Nada disso que eu citei até agora, mas por exemplo... a hipnose é uma prática que tem uma base neuro-fisiológica comprovada até certo ponto. É inclusive utilizada a nível médico e odontológico e pode, de certa forma, assemelhar-se um pouco ao que acontece em algumas das chamadas “práticas sobrenaturais”.

Ajeitei o cabelo que teimava em cair sobre os olhos. Continuei empolgado em “dar aula” para Marlon.

— Através da indução hipnótica condicionamos uma pessoa para que não sinta dor, por exemplo. E ela não sente! Há extrações dentárias e até cirurgias que são feitas só com a prática da hipnose. Não é sobrenatural no sentido literal da palavra. Tem base científica. A indução hipnótica causa alterações a nível cerebral, há modificação de neurotransmissores e a estimulação ou inibição de centros específicos do Córtex produz o efeito esperado. De certa forma as diversas Artes Mágicas que nos foram apresentadas fazem a mesma coisa: elas nos capacitam a ver além da visão, a ouvir o inaudível, realizar o impossível. Há uma espécie de “desbloqueio mental”, que acaba possibilitando o antinatural.

— Como você definiria as Artes Mágicas? Você acabou de dizer que Magia é Magia, e “mágica” é “mágica”!

— Mas eu não estou falando de mágica, Marlon, de “truques” para diversão!

— Seja claro, então!

Pensei um pouco.

— As Artes Mágicas são o instrumento da Magia. São reais. Não são truques! Elas aumentam a nossa sensibilidade; potencializam ao máximo as capacidades naturais do nosso ser.

Já que temos uma força natural que é nossa... usemos então!!

— E até onde vai esta capacidade humana? Qual o limite dela?

Dei risada:

— Aeh, Marlon! Até parece que eu tenho que explicar tudo para você, cara!!!

— Não deixa de ser um treinamento para você. Você falará sobre isso com muitas pessoas, em breve.

Parei de rir e respondi à pergunta:

— A capacidade individual difere de indivíduo para indivíduo, é óbvio! Não somos clones uns dos outros. Naturalmente há pessoas com maior capacidade de desenvolver “dons sobrenaturais” do que outras. — E antes que ele perguntasse, acrescentei. —Quando chegamos ao limite, isto é, à potência máxima...quando finalmente nos vemos aptos a usar toda a força oculta em nós, isso ainda não é o fim do Poder. Eu diria que é somente o começo...

Meus olhos deixaram de contemplar à volta e minha voz soou mais grave. Aquele ponto era uma espécie de “Shangrilá” para mim: um lugar ainda tremendamente inacessível mas desesperadamente desejado.

— Não é o fim... — Repeti, devagar. — Existe a possibilidade de interagirmos, eu e a energia que há no Universo, nesta e em outras dimensões. — Fiquei quieto.

Marlon respeitou meu momento introspectivo e colocou um pouco mais de água com gás em seu próprio copo e no meu. Bebi água e retomei, mais divagando comigo do que explicando seja lá o que fosse para ele.

Eu repetia o que tinha ouvido. Mas no íntimo do meu ser eu desejava ansiosamente poder comprovar aquelas teorias numa vivência prática e individual. Queria experimentar...

— Podemos atuar juntos com outras fontes de energia, em sincronia, visando um fim comum. Um fim proveitoso a ambos! Isso quer dizer acrescentar ainda mais poder à minha força!

— “Poder à Força... morte aos fracos.” — Complementou Marlon.

Inclinei lentamente a cabeça em direção a ele, olhei estranhamente em seus olhos. Ele completou o meu pensamento, mas que forma estranha de completar... queria perguntar o significado daquela frase, mas subitamente perguntar não parecia fazer sentido. E me calei. Esperei. A seu tempo...

De repente nossos olhos deixaram de encarar estranhamente um ao outro e parecemos voltar à realidade do Shopping. Marlon sorriu novamente:

— Enfim... que pode você me dizer, então, sobre as Artes Mágicas, afinal?!

— São várias, como você sabe. E têm diferentes graus de complexidade à medida que vamos nos aprofundando nelas. Mas tudo foi visto em tantos detalhes... como posso resumi-las em poucas palavras?...

— Seja simples. Não precisa entrar nos detalhes. Guarde-os para você. Os detalhes são nossos, não interessam a mais ninguém. Basta saber que funcionam!

Pensei um pouco novamente e recomecei: — As Artes Mágicas são instrumentos para que possamos abrir o nosso entendimento.

Comecei a discorrer sucintamente acerca delas: a quiromancia, a cartomancia, a radiestesia, a astrologia, a transferência bioplasmática ou vodú, a cromoterapia, a manipulação de ervas, o desdobramento, e a mais importante de todas: a numerologia. Nove ao todo.

— A numerologia é muito complexa. Ainda tenho algumas dúvidas que não tive tempo de tirar. Mas, enfim, há dois tipos: a esotérica e a cabalística.A esotérica é difundida no meio do público em geral e não tem interesse maior para nós. Ficamos com os conceitos da cabalística. Compreender a influência dela dentro do âmbito humano é uma tarefa delicada e complexa! Zórdico não entrou nos detalhes da origem da teoria mas é bastante antiga. Por hora vamos aprender superficialmente somente o conceito por trás dos números. Em outras palavras, sem nos preocuparmos como chegaram às conclusões, aceitamos simplesmente que os números dizem “tal e tal”. Conhecendo a interpretação deles temos grande chance de acertar, prever, enxergar, orientar. Ela pode dar dados referentes ao corpo, à alma e ao espírito. É a única Arte capaz de dar dados fidedignos do futuro distante. Tanto para nós, como para outros.

— Deus também tem os Seus números, sabe? O três, o sete, o dez, o doze, o quarenta, o cinqüenta, dentre outros... todos eles têm os seus significados! Da mesma forma a Magia também tem a sua forma numerológica de interpretar o mundo físico e o mundo não-físico. — Marlon assentia com a cabeça, aparentemente satisfeito com o meu desempenho. — E o que você diria da prática das Artes Mágicas, em termos gerais?

— Pois é... vamos lá! Sinceramente falando... algumas coisas são meio difíceis de engolir ainda. É muita teoria e não vimos realmente nada de prático. Estou aguardando que aconteça como Zórdico disse desde o início, que “tudo será provado”! Mas ainda não está acontecendo isso. Temos que aceitar que “são porque são”. Pelo visto não é o momento de adentrar a origem de muita coisa. Há que se conformar com os resultados.

— Mais do que puramente aceitar, você verá em breve que tudo que está aprendendo “é porque é”. Como dirigir um carro, sabe? Ao pisarmos no acelerador sabemos que a velocidade aumenta, mas não sabemos como se dá toda a Engenharia por trás disso. — Tranqüilizou-me Marlon. — Mas, mais tarde, você conhecerá os bastidores. A “origem” de tudo, como você diz! Eu lhe garanto isso. Não estamos trilhando um caminho de loucos. Apenas tenha paciência.

— Fico um pouco incomodado, é difícil esperar. Olhe, até pesquisei um pouco estas tais Artes Mágicas, por fora. Algumas coisas têm uma comprovação mais científica, sabia?...

— Oh, sim? — Ele sorria, um sorriso paternal e carinhoso. — E o que você pesquisou?

— Por exemplo, a astrologia. Parece vago dizer que é a “influência dos astros sobre os seres humanos. Parecia vago! Você sabe que não sou de aceitar qualquer balela, por mais que respeite o Grupo e tudo o que tenho aprendido. Mas fui atrás, lembrei-me de algo que tinha lido sobre o “Efeito de Maré”! — Dei uma risadinha. — Você sabe o que é “Efeito de Maré”?

Marlon sorriu de novo, aguardando.

— Te explico já! Aprendi com aquele livro “O Colapso do Universo”... viu, Marlon? Fui checar, viu?! — Fora ele quem me recomendara o livro. — Então, segundo a informação desse livro o tal “Efeito de Maré” é definido como a ação da Gravidade sobre diferentes pontos de um corpo qualquer. Parece muita física, né? Mas é legal! Sem enrolação agora: o Efeito de Maré comprova-se em corpos muito grandes. Por exemplo, a Lua sofre influência da força gravitacional da Terra. Mas a face lunar que está voltada para o nosso planeta está sob uma ação mais intensa do que a outra, pois está mais perto de nós. Por isso a face terrestre da Lua é abaulada, mais ou menos como se a Lua estivesse com caxumba! A Terra “puxa” esta face com muito mais intensidade! E não é só a Terra que exerce ação sobre a Lua, a Lua também faz o mesmo com a Terra...! A questão é: será que a Lua não agiria sobre quem está sobre a Terra? Nós, os seres humanos? Pois aí é que está! Se a Lua exerce efeito nas marés oceânicas não exerceria igualmente influência sobre o homem, cujos corpos contêm 65% de água?! Ninguém comprovou que o “Efeito de Maré” possa ocorrer a nível “micro”, em corpos pequenos como o nosso. Mas alguns dados são interessantes de serem analisados. Teoricamente a planta dos seus pés sofreria menor influência da fora de atração da Lua do que a sua cabeça, porque estão mais afastados dela. Haveria maior força atuando em cima do que em baixo. A questão é a seguinte: será que este efeito, por menor que possa parecer, não seria capaz de afetar a micro circulação cerebral e, consequentemente, os transportes ativos e passivos do organismo, o metabolismo, e até mesmo os transmissores químicos?! Existem coletâneas de evidências neste sentido. Por exemplo, ocorre maior número de assassinatos hediondos em noites de Lua cheia. Percebe aonde quero chegar? Daí vêm os termos “lunático”, ou “estar no mundo da Lua”, sabia?! Quem sabe não seria o

Efeito de Maré” da Lua em relação ao corpo humano? Que levaria a uma alteração cerebral qualquer que potencializasse as tendências psicopatas? Ou seja, a Lua, quando assume aquela posição que chamamos de “cheia”, teria uma maior tendência de influenciar indivíduos predispostos?...

Parei para tomar fôlego. Tinha até esquecido da água. Bebi de uma vez, explicando-me:

— Também parece que ocorrem maior número de acidentes em noite de Lua cheia. Até Lobisomem gosta de Lua cheia! — Gracejei. — Bom... tudo isso só para dizer que a astrologia talvez tenha lá o seu quinhão de verdade. Os astros poderiam de fato influenciar um indivíduo....! A estatística parece apontar para essa possível influência. As forças emanadas do Universo, assim como a gravitacional, não são vistas. Mas sentidas! E sofremos influência delas. Pode-se não perceber, e mesmo assim estar sob influência dos astros, de campos energéticos e de ondas eletromagnéticas. E isso levaria a potencializações ou diminuições de capacidades humanas. Mas, claro, a astrologia não é uma ciência exata. Na verdade não se pode nem chamá-la de “Ciência”. A leitura astral indica tendências. Como a hora do almoço: meio-dia é hora de almoço e há muita chance, alta probabilidade estatística de você almoçar... mas isso não quer dizer que realmente venha a fazê-lo!

— Gosto de ver como você tem aprendido rápido, filho. Isso é bom... muito bom! — Deu-me uma pancadinha no ombro. — Mas não gaste todo o seu tempo procurando explicações para o que tem escutado no Grupo dentro da ciência humana. Você já aprendeu o quanto ela é falha; certamente as respostas certas não virão por esse caminho. É louvável o seu interesse, por isso mesmo eu recomendei o livro. Mas não espere encontrar as respostas neles. Não se esqueça de que estamos estudando “o Oculto”. Se ele já estivesse nas prateleiras das Bibliotecas não seria Oculto. Concorda? Quanto às Artes Mágicas que você tem aprendido, mesmo estas que são tão amplamente divulgadas como a própria astrologia... esqueça a interpretação corriqueira que se encontram em todos os círculos. No Grupo você está tendo acesso, digamos assim, ao “cerne” da questão. Mais ou menos como a história da acupuntura, que usamos como exemplo logo no começo. Mesmo porque o material do qual estão sendo tiradas todas as informações que você está recebendo é de uso exclusivo nosso. Não pense que vai encontrar por aí qualquer coisa semelhante. Porque é fruto de revelação! Aguarde e verá!

Marlon fez um sinal ao garçom e pediu outro café antes de continuar. Eu esperava pelo que viria. A conversa não parecia encerrada. Falei ainda um pouco sobre cada uma das outras Artes Mágicas.

— Creio que você aprendeu a parte teórica além do esperado, quase que podemos discutir de igual para igual o que foi ensinado!

Elogiou ele sinceramente.

Embora eu achasse que ele estava exagerando um pouco, observei-o sem dizer nada. Marlon me despertava profunda admiração, tinha um tremendo carisma. Eu queria aprender o máximo que pudesse com ele!

Meu amigo só voltou a falar após ter sua nova xícara de café diante de si.

— Sabe, Eduardo, eu te elogio com sinceridade porque você aprendeu a teoria da coisa. Mas nem todo aquele que conhece a teoria pode realizar a prática. — Sorveu com calma o café, o olhar um pouco à distância.

Esperei quieto, sem perguntar. Já o conhecia o suficiente.

— Nosso corpo, essa carne que conhecemos e podemos pegar, só  vive porque há algo além dela que lhe confere a vida. Chame do que quiser. A maioria gosta do termo “espírito”.

Até aí, tudo bem. Mas o que isso tinha mesmo a ver com o que estávamos falando?...

— A vida do corpo, da carcaça, está no espírito. Sem ele não haveria vida. É este “algo além” da matéria que faz com que vivamos! Pois bem... até agora você aprendeu Magia do ponto de vista horizontal apenas, puramente teórico. Qualquer um pode fazer isso. Basta um pouco de inteligência. Todos podem aprender o racional, o conteúdo, a teoria, o básico, a matéria. Se o objetivo fosse só este não haveria porque você vir às aulas. — Marlon abriu bem os olhos para mim. — Entende isso, meu filho?

Assenti, ainda sem questionar.

— Pergunto eu: temos estudado a “carcaça”, o envoltório, a superficialidade. Assim como o corpo não é nada sem a sua energia vital, sem o seu espírito... a Magia também não é nada apenas a nível teórico.

Senti novamente aquela já conhecida sensação de magnetismo, quando meu interesse era excessivamente despertado, quando parecia haver a iminência de algo no ar. Meus olhos não se desviaram mais do rosto dele. Marlon sem dúvida era muito inteligente nas suas colocações. Ele apontou para a xícara de café preto que acabara de pedir. Tirou do bolso uma moeda e a jogou dentro do líquido quente.

Então voltou-se para mim e perguntou:

— Como você faria para pegar a moeda?

Estiquei a mão rapidamente para caçar a moeda com a colher ou o garfo. Marlon interceptou-me:

— Não, Eduardo! Você só vai cutucar porque viu que eu joguei a moeda! Mas, e se você não tivesse visto o que era? Se simplesmente soubesse que existe algo precioso lá dentro?! Algo de valor?

— Bom... — Respondi. — Então eu seria obrigado a beber o café!

— De fato. Seria a melhor maneira de descobrir o que está no fundo. Em outras palavras: você teria que absorver o negro, absorver o Oculto, apropriar-se dele... para perceber — e receber! — o brilho da moeda, a luz da sabedoria que estava inacessível.

Marlon afastou a xícara para a outra extremidade da mesa e continuou:

— Da mesma forma com a Magia. O que existe além da numerologia, da cartomancia, da astrologia?! É simplista dizer que a alma da astrologia está somente no Efeito de Maré! O que existe além do conceituai? Onde está a “Força Vital” da Magia, aquilo que faz com que ela...”viva”? Por exemplo, os egípcios construíram as Pirâmides, não é? Hoje em dia podemos construir também, qualquer engenheiro pode fazer uma Pirâmide igual à de Queóps. Basta seguir a teoria. Mas sabemos que a Pirâmide, quando construída dentro de determinados padrões e medidas canaliza energias que vão além do nosso entendimento. Transcendem o conhecimento da Engenharia. E mesmo que pudéssemos entender, pura e simplesmente, que estas forças existem, ainda assim não é tudo. Usá-las em benefício próprio é muito diferente. E essa é a proposta da Magia! Canalizar forças em benefício próprio. A partir de agora você vai começar a desenvolver o que chamamos de Terceira Visão. Visão além do alcance. O “espírito” da coisa!

— Você poderia exemplificar melhor, Marlon?

— Olhe ali. — Marlon apontou pela janela ao nosso lado, de onde podíamos ver a rua lá fora, e os carros aglomerados na calada. — Observe o homem de camisa azul. Está vendo?

— Aquele que está abrindo a porta do carro, segurando uma pasta? Estou.

— Você é capaz de dizer o que ele fará nos próximos segundos, não é?

— Vai abrir o carro, por as coisas dentro, dar a partida, sair pela rua. É óbvio.

— É fácil, sim. É a interpretação lógica. Como também é fácil e óbvio dizer que uma determinada seqüência de cartas diz isso ou aquilo, ou que determinada conformação astral “A” ou “B” pode propiciar isto ou aquilo. Basta estudar um pouco. Mas quando eu falo em Terceira Visão estou querendo dizer que, de repente, você poderia olhar para o tal homem, que realmente está indo embora com o seu carro, e dizer, quem sabe, o que ele vai fazer em seguida, ou qual é o seu nome, se é ou não casado. Esta é uma sensibilidade além dos fatos, além da lógica.

Fiquei pensativo.

— Pôxa... — Perguntei finalmente. Eu estava sempre me perguntando sobre os “por quês”. — Como será que isso acontece, Marlon?

— Eduardo, não haveria como explicar “como acontece”. No momento basta você saber que “acontece”. Vamos a isso!

Ainda assim não me dei por achado. Mas assenti. Comecei a cutucar a xícara de café com a ponta da faca. Após algumas tentativas, a moeda veio para fora e rolou sujando a toalha. Peguei-a na mão, distraído.

— Sabe, cara, amanhã tenho prova no colégio e não estudei nada. — Afirmei, em tom meio que de reclamação. — Acho até que nem deveria ir à aula no Grupo hoje à noite. Acabei zoneando muito durante o curso e não estou sabendo direito oxi-redução e cálculo estequiométrico.

Marlon não pareceu dar bola para a minha queixa. Ao contrário, continuou falando:

— Você sabe que a nossa mente é muito poderosa e ela é capaz de gravar todos os fatos sem perder nenhum.

Não respondi e deixei-o ir adiante.

— Imagine só uma passarela de mais ou menos cinqüenta centímetros de largura. Se você tivesse que cruzar um ribeirinho sobre ela, a um ou dois metros de altura, seria fácil, não é?

— Acho que sim! — Respondi, com um muchocho Ele nem me respondera sobre a prova!

— Agora imagine que você fosse andar sobre a Muralha da China, e esta fosse da mesma largura: cinqüenta centímetros Que aconteceria? Você olharia para baixo e embora sua mente afirmasse que aquele espaço é mais do que suficiente para você passear, sem cair, o medo seria tão grande que bloquearia tudo A razão, o senso de equilíbrio, tudo. Provavelmente você cairia ou não seria capaz de dar mais do que meia dúzia de passos

Olhei para ele interrogativamente sem saber aonde íamos chegar. Compreendendo o rumo dos meus pensamentos, Marlon sorriu:

— Sua prova é mais ou menos como este exemplo.

— Ah! É?...

— Sua mente grava tudo, mesmo que você não se dê conta disso. Algumas vezes você não consegue é acessar a mensagem gravada, mas está lá! O medo de ir mal na prova faz com que você bloqueie o acesso à informação que foi guardada na mente É o famoso “branco”! Comum em Vestibular, né? Eu já prestei e sei. Até quem estudou muito durante o ano... às vezes o stress se torna tão tamanho que a pessoa simplesmente “esquece” as fórmulas os conceitos, a matéria. Quando começa a se acalmar, a informação acaba voltando, não é assim?

Ele então me orientou calmamente:

— Você não precisa deixar de ir ao Grupo por causa da prova. Antes de dormir leia toda a matéria em voz alta, uma vez só. E pronto! Vá dormir sem receio, garanto que sua mente arquivou o necessário. Não tenha medo. Só não se esqueça... após ler, fale as seguintes palavras... — E Marlon recitou em voz clara uma frase esquisita, numa espécie de linguagem que eu não conhecia.

Achei muito interessante aquela história toda e a convicção dele ao me falar à respeito. Decidi que iria tentar.

— Como é mesmo isso aí que você disse?! — E decorei as palavras conforme ele me ensinou.

— Estas palavras vão funcionar mais ou menos como um reflexo condicionado para a sua mente. Vão ajudá-lo a acessar as informações que você arquivou.

E sem mais essa nem aquela Marlon fez sinal ao garçom para fechar a conta.

Fomos para o Grupo mas eu permaneci calado a maior parte do tempo, pensativo. Até que seria uma boa se aquilo funcionasse mesmo!

***

Na época eu não poderia realmente compreender como aconteceu. Fato é que funcionou!!!

À noite, após chegar em casa, separei o material, as apostilas e os exercícios que cairiam na prova do dia seguinte. Já era tarde mas li com cuidado e em voz alta, exatamente como Marlon me havia orientado. Pronunciei por fim as tais palavras e fui dormir com a sensação de que não absorvera praticamente nada daquilo. Mas valia a pena tirar a limpo, mesmo que me custasse nota baixa. Pelo menos eu provava para mim mesmo que aquela teoria toda não dava tão certo assim!

No dia seguinte eu estava ansioso para receber as questões. Sinceramente eu não me lembrava de muita coisa, mas também nem procurei lembrar. Em breve eu ia ver se minha mente tinha ou não tinha captado as informações conforme Marlon dissera.

Não dei bola para os colegas mais criteriosos que insistiam em decorar furiosamente os últimos pontos. Furtivamente alguns outros davam as últimas checadinhas em suas “colas” feitas debaixo da carteira, na manga da camisa, na calculadora, na borracha...

E eu nem aí, fiquei na minha e não me preocupei. Fiz questão de não decorar coisa alguma. Queria só ver!

Observei Camila que comparava exercícios feitos às pressas com a “Estranha”.

Quando o professor distribuiu as avaliações eu aguardava com ansiedade incontida, tamborilando sobre a carteira. Havia testes e questões escritas.

Como de costume dei uma rápida vista d'olhos em todas as questões. Não senti nenhum “efeito paranormal”, para surpresa minha. Esperei um pouco e como nada acontecesse, comecei a resolver os exercícios. Achei a prova muito fácil, respondi rapidamente sem grandes dificuldades, a matéria fluía com facilidade. Saí logo, mas também um pouco frustrado:

— Caramba! — Pensei comigo mesmo. — Agora é que não vou conseguir chegar a conclusão nenhuma. A prova foi muito bico! Qualquer um fazia, mesmo sem ter lido a matéria!

Mas não foi o que a turma comentou. Ninguém achou a prova tão fácil assim e minha nota foi uma das melhores. Coincidência ou não, o fato é que não me convenceu muito. Seria uma gota de Magia... ou somente o acaso?!! Repeti o mesmo ritual de estudos nas provas seguintes, afinal o ano estava encerrando e havia uma avaliação atrás da outra. E eu acabei me saindo sempre muito bem. A matéria toda me chegava à mente com tremenda clareza e muita fluência.

Acaso??? Ora!!

Ainda que eu não pudesse realmente explicar “porque” acontecia... era como me dissera Marlon... realmente acontecia!!! E eu achei o máximo!

***

Eu estava sentado na carteira do fundo, meu lugar habitual. Faltava ainda uma meia hora para o início das aulas da noite e a sala estava vazia. Meu olhar vagueava alternando entre o quadro-negro, as janelas de vidros opacos e as luminárias de gás néon.

Finalmente voltei a examinar os papéis que tinha à minha frente, sobre a carteira. Apoiei o queixo sobre o punho e baixei a cabeça, pensando e repensando. Depois simplesmente deixei-me ficar rabiscando o tampo da carteira. Todos os dias eu adiantava a minha “obra de arte”; aperfeiçoava os traços, coloria, sombreava...a cara alegre de um ser vampiresco, reminiscências da minha infância. Com o meu eterno toque de bom humor ele não parecia muito sinistro, pelo contrário, era até muito simpático, com um arzinho infantil e inocente!

Eu riscava e rabiscava mas minha mente estava longe dali. Nem prestava a costumeira atenção ao desenho.

Mas acabei por voltar a remexer nos papéis. Era até desanimador! Diante de mim eu tinha alguns mapas numerológicos, feitos através de numerologia cabalística. Eu tinha por aquela arte um fascínio especial; talvez porque fosse a que se considerava mais fidedigna. Eu treinava mapeando pessoas conhecidas. Fiz o meu, claro, em aula, e depois passei a treinar sozinho usando minha família, Camila... mas os resultados eram tão medíocres!

Os números têm a capacidade de dar tanto um perfil da personalidade externa quanto interna, podem caracterizar uma pessoa de forma bastante peculiar, com grande minúcia de detalhes. Pode revelar aspectos ocultos como a personalidade de alguém, seu inconsciente até, seu caráter imutável.

Mas os meus mapas não descobriram ninguém que pudesse chamar a atenção, pelo menos com base nos números. Eles revelavam pessoas de índole fraca, por vezes quase que desequilibradas, pouco convicta dos seus valores, desestabilizadas muitas vezes. Pessoas à deriva no mundo, que não saberiam ouvir a voz do seu “eu interior”.

Os dados também não indicavam qualquer predisposição especial em nenhum sentido; nada de dons especiais e nem tendência a desenvolver grandes capacidades. Não revelavam poder, ou ousadia, ou sabedoria, ou espírito de aventura... nada! Era desolador! Pessoas comuns demais...

O pessoal começou a entrar na sala e meu devaneio foi interrompido. O ambiente lentamente foi-se tornando mais ruidoso e eu acabei guardando meus “resultados de pesquisa” dentro do caderno. Ninguém deveria nem ver aquilo. Aliás, até o presente momento mais ninguém sabia de nada. Ou melhor... quase ninguém. Thalya começou a questionar um pouco quando reparou em minha ausência às aulas duas vezes por semana.

Ainda que as reuniões começassem mais tarde e eu pudesse assistir às duas primeiras aulas, normalmente não era o que acontecia, eu usava aquele tempo para treinar mais Kung Fu, por exemplo, e acabava mesmo faltando todas as terças e quintas Mas diante do questionamento fui seco e objetivo, nem com ela me abri. Disse somente que estava freqüentando um Grupo que estudava alguns assuntos de meu interesse. E só. Nem pronunciei a palavra “Oculto”. Apesar de Thalya ter tomado ciência das cartas de São Francisco inconscientemente eu sabia que não poderia dizer nada mais. Pelo menos... por enquanto!

Mas Thalya não conseguia nem disfarçar de tanta curiosidade à respeito, principalmente porque eu era muito curto nas respostas. Volta e meia lá vinha ela:

— Mas você não vai mesmo me contar, Edú?!

A insistência era porque eu e ela estávamos acostumados a não ter segredos um com o outro. Thalya de fato vinha estranhando minha atitude. O que poderia ser maior do que a nossa amizade?

Mas eu não cedi, e nem fiz clima de mistério. Era sério demais para brincar. Então eu apenas me abstinha de falar à respeito. As indagações acabavam sempre partindo dela.

Sorri meio que sem querer lembrando daquilo. Às vezes não queria dar o braço a torcer e fazia de conta que não estava mesmo ligando. Mas eu sabia que ela estava de anteninha em pé; qualquer brecha já era motivo para especulações!

E falando em Thalya... lá vinha ela entrando com a bolsa a tiracolo e uma saia de estilo indiano que eu achava muito bonita. O cabelo solto esvoaçava, todo cacheado. Estava linda como sempre. Thalya era muito popular na turma. E cobiçada. Eu me orgulhava de ser o único cara da escola com quem ela andava. Isto é, com quem ela tinha uma amizade “especial”. Ela tinha outros amigos, é claro, mas o nosso envolvimento fazia com que ela não dispensasse tempo demais com qualquer outro. Fora do colégio... eram outros quinhentos! Ela que andasse com quem quisesse. Mesmo porque, eu tinha Camila. Camila é que era a namorada... Thalya era somente “amiga”!

Ela veio direto para o meu lado. Cumprimentou-me com um beijo “de selinho”, comum entre nós dois. — Oi! Tudo joinha?! — Tudo em cima. E você?

— Legal. Vi meu pai estes dias, coisa tão rara!

— Ah, é? E já viajou de novo?

— Pois é! — Thalya deu de ombros.

Ela logo se esqueceu do pai e passou a falar do Herbert, entre risos e com bom humor.

— Você não imagina o que aquele coelho aprontou!

Era muito difícil vê-la cabisbaixa ou irritadiça. Conversamos com animação até a entrada do professor.

Foi lá pelo meio da aula que me veio a idéia, meio que do nada:

— Vou fazer o mapa da Thalya!

Olhei para ela que, meio perdida no meio do cabelo, distraída desenhava na margem do caderno.

***

Dediquei parte do final de semana à confecção do mapa de Thalya. Estava empolgado e curioso. Não sei por que não tinha me lembrado antes!

“Eu gostaria de saber mais sobre ela.”, refleti.

Aquele algo mais que ela dificilmente demonstraria, que ficaria escondido até mesmo diante daqueles que a conhecem mui

to bem. Queria ter uma idéia do que estava no âmago, no íntimo do seu ser. Mesmo que eu não me sentisse de fato romanticamente atraído por ela era divertida aquela pequena “invasão de privacidade.

Thalya era carismática, alegre, simpática, extrovertida, muito inteligente...isso eu já sabia. Mas o quê mais?!?

Eu queria abrir aquela porta dentro dela, espiar um pouco; queria olhar além dos muros, além dos jardins externos da sua personalidade. Adentrar a casa da sua vida, conhecer a sua verdadeira natureza, chegar até o seu quarto, ver como as coisas estavam dispostas... lá dentro! Saber se o que eu enxergava por fora era verdade mesmo ou não. Queria conhecê-la melhor!

Os números me permitiriam isto, poderiam me dar uma dica, um vislumbre. Eu não estava mais a fim de viver uma mentira idealizada. De repente a feitura do mapa me pareceu uma abertura rumo à verdade sobre minha amiga.

E fiz, fiz o mapa com esmero. Quando terminei o trabalho, no entanto, deparei-me com algo que definitivamente não esperava. Olhei o resultado, tentei encontrar uma explicação lógica e acabei indo pelo caminho mais fácil:

— Claro!! Devo ter errado os cálculos em algum ponto! Refiz tudo.

E obtive os mesmos resultados. Caramba.......!

Agora eu não entendia mais nada. Será que era possível acontecer algo assim? A probabilidade era, penso eu, meio remota. Decidi que o melhor a fazer era conversar com Marlon a respeito.

Aquilo era muito estranho...

***

Contatei meu amigo assim que possível.

 — Marlon, olha, acho que eu errei alguma coisa aqui. — Fui começando e estendendo a ele os papéis.

Ele parecia já saber do que se tratava. Nem pegou os números.

 Essa moça, essa sua amiga...  não foi por acaso que você se interessou pela numerologia dela.

Desprezei o fato dele acertar na mosca, aparentemente sem dados para tal. Volta e meia Marlon acertava em cheio as coisas que me diziam respeito, ultrapassava a lei da probabilidade. Mas eu já estava de certa forma acostumado. E como ele já parecia inteirado do assunto, simplesmente prossegui, sem perder muito tempo com explicações.

— Pois é, você sabe, sei lá como é que você sabe, mas...  fiquei surpreso! Acho que essa é a palavra. Qual a possibilidade disto acontecer?!

— Praticamente nenhuma. — Ele foi categórico. — Você sabe disso.

— Os cálculos estão certos, então!

— Estão. Você sabia que estavam.

Inspirei fundo e me calei por um pouco.

— Essa moça é sua alma gêmea. Juntos, vocês dois vão se tornar muito fortes.

Como assim, alma gêmea?! — Eu não estava compreendendo bem. Aquilo parecia uma coisa meio fora de propósito.

— Algo mais ou menos como as duas metades de uma laranja! Que se complementam! Ao lado dela você será capaz de realizar coisas que não poderia se estivesse sozinho. Você e ela... juntos... representarão muita força no futuro.

Eu não sabia o que dizer. Fiquei olhando para Marlon com cara de espanto, procurando as palavras certas mas não as encontrei. Ele respeitou meu silêncio e perplexidade. Por fim, encostou a mão de leve sobre o meu ombro no gesto paternal de sempre e falou com voz branda:

— Você não acha que já está na hora dela fazer parte do Grupo?

— Bom... mas... por quê? — Eu realmente não sabia o que dizer. — Estava previsto que ela faria parte?

— Não exatamente. — Respondeu Marlon um tanto ou quanto enigmaticamente. — Nós estávamos esperando que partisse de você, que você desse o primeiro passo e descobrisse por si mesmo. Como eu já disse: sua descoberta não foi por acaso! Você pode não perceber, Eduardo, mas a sua força interior está se desenvolvendo mesmo antes que comecemos a realizar qualquer coisa de cunho mais prático, no rigor da palavra. Esta força interior capacitou-o a descobrir sua alma gêmea sem que nós tivéssemos que apontá-la. É como a agulha de uma bússola, que encontra o caminho certo sem que ninguém o indique.

Ele continuava me olhando, e eu o olhava de volta sem desviar minha atenção. Marlon pigarreou e concluiu:

— Existe um campo energético entre vocês. Sua energia interior simplesmente captou-o, e acionou a bússola para que você fosse em direção a ela.

Mais uma vez eu estava meio pasmo. Não fui capaz de esboçar reação. Coisas da Magia...?

Mas fiquei pensando a respeito. Era verdade que nós nos dávamos bem, bem até demais se fosse levar em consideração a minha índole. Eu a compreendia e era compreendido. Havia cumplicidade entre nós, essa era a verdade, um elo forte desde o início. Mas daí a ver Thalya como uma espécie de “cara-metade” já era um outro passo! Eu teria que pensar a respeito, me acostumar com a idéia. Aonde tudo isto nos levaria?

Marlon interrompeu o curso dos meus pensamentos com outro sorriso e uma palavra de incentivo:

— Que bom que você a encontrou! Que você soube seguir a direção certa! Que bom que você está aprendendo a escutar e seguir a sua voz interior. Eu sei que você não compreende bem o que eu estou te dizendo agora, talvez pensando que tenha sido tudo mera coincidência. Mas em breve você verá que não é assim. A sua voz interior falará cada vez mais alto em sua mente. E chegará o dia em que você poderá finalmente ouvi-la. Ouvi-la mesmo, audivelmente, palpavelmente.

Tornei a arregalar os olhos, só que dessa vez era de surpresa: — Sério?!!...

Marlon assentiu com a cabeça:

— Você verá. — E mudando de assunto, orientou-me. — Bem, Eduardo, Convide-a para nossa próxima reunião! — Pôxa, convidar já?! Não sei nem se ela vai aceitar assim!

Marlon novamente afirmou com muita convicção, sem hesitar:

 Ela vai aceitar, sim. Apenas convide-a.

Concordei baixando novamente a vista para os cálculos numerológicos que estavam ali. Meus olhos percorreram devagar cada número. Analisei-os. Decorei-os.

Cada um deles, do primeiro ao último... eram exatamente iguais aos meus!

***