Translate this Page
Ultimas Atualizações
Início  (10-10-2024)
Contactos  (10-10-2024)
tneestudosbiblicos  (10-10-2024)
Dicionarios Biblicos  (10-10-2024)
Capitulo XIII  (10-10-2024)
Capitulo XII  (10-10-2024)
Capitulo XI  (10-10-2024)
Capitulo X  (10-10-2024)
Capitulo IX  (10-10-2024)
VOLUME 2   (10-10-2024)

Rating: 2.9/5 (29 votos)




ONLINE
3





Partilhe esta Página




Capitulo X
Capitulo X

As reuniões em Grupo dos “Fire's sons” haviam começado na semana se­guinte logo após o meu primeiro Rito individual com Abraxas. Para meu assom­bro também elas aconteciam na residência de Zórdico. Aliás, eu e Thalya fazía­mos parte do grupo de Zórdico! Na época da Escola eu não tinha a menor idéia de como era grande aquele lugar e quanto tempo eu passaria lá.

Eu tinha ficado pensando a respeito de como seriam as reuniões. No meu entender seria inconcebível estar separado de Marlon. Lucifér não faria isso, isso é coisa de Deus. Ele, sim, separa as pessoas. Mas meu pai sabia o que era melhor. E realmente não fiquei longe de meu amigo.

Os Rituais de Celebração semanais — aqueles que reuniam toda a Irmandade em São Paulo —, nas sextas e sábados, também aconteciam ali em casa de Zórdico. Foi uma grande surpresa para mim porque eu e Thalya nunca tínhamos visto movimento anormal de carros nos dias das aulas na Escola.

Mas é que a casa, na verdade, não era uma só. As casas de todo o quarteirão tinham sido compradas e unidas por passagens subterrâneas. E estavam englo­badas dentro de muros altíssimos que conferiam ao conjunto a dimensão de uma fortaleza. As entradas eram muitas, por ruas diferentes, de forma que nunca cru­zamos com o imenso número de membros da Irmandade que vinha para os Rituais.

 

Mas agora aquele lugar passava a ser muito mais descortinado aos meus olhos. Não havia mais necessidade de ficarmos limitados a uma saleta escondida. Podíamos caminhar por ali à vontade, sem receios. O lugar era muito bonito!

Nosso Grupo de Fire's Sons tinha mais ou menos quinze pessoas. Foi uma surpresa agradável olhar para eles. A maioria já era conhecida, pelo menos de vista. Alguns tinham estado presentes no “Jantar de Formatura”. Outros conhe­cemos no Ritual de Iniciação. Estavam ali o Ariel e o Górion, dentre outros ros­tos familiares. E a Rúbia.

Ela me abraçou apertado, sorridente.

— Que bom que você está aqui!

Ainda que Thalya tivesse pegado em minha mão incontinenti e me olhado meio contrariada, nem liguei. Aquela peruana era mesmo um estouro! Rúbia cum­primentou Thalya com o mesmo carinho e ela própria terminou de nos apresentar a quem não conhecíamos.

Já não nos reuníamos no Porão. Mas nossa sala de reuniões, no primeiro an­dar, não era bem o que se podia chamar de “sala de reuniões”. Era super infor­mal, ampla, aconchegante, cheia de poltronas com almofadas, lareira. Amplos janelões com cortinas de tecido suave davam vista para o jardim cheio de árvo­res.

Uma farta mesa exibia tudo o que havia de delicioso. Podíamos ficar bem à vontade, pegar o que quiséssemos à hora que quiséssemos. Eu não perdia tempo, para variar.

Percebi que havia também sofisticados aparatos para projeção de filmes e slides.

Zórdico continuava presidindo as reuniões e nos ensinando a todos. Às ve­zes era Marlon quem nos dirigia nos estudos, mas mais raramente. Tanto Marlon quanto Zórdico ocupavam posição de “Mestres”. Mas Zórdico estava num pata­mar um pouco acima.

Os propósitos do grupo eram o aprimoramento. Era absolutamente necessá­rio o conhecimento amplo, completo e profundo da Magia e das suas técnicas básicas. E tudo tem um começo, começamos com o que era genérico e básico. O conhecimento específico viria a seu tempo. O evoluir é conseqüência.

Novamente veio a teoria. E principiamos a aprender sobre a diversidade dos muitos processos ritualísticos. Primeiro os mais simples, a nível individual, que são usados para crescimento e consagração pessoais. (Aprendi que também há Ritos para serem feitos em pequenos conjuntos, normal

normalmente com cinco a nove participantes, e que visam resultados específicos comuns).

Aprendemos de tudo um pouco nesse sentido. Esmiuçamos cada detalhe. Desde os componentes usados em cada tipo de Ritual, o por quê de sua utiliza­ção, a simbologia por trás de cada item, a forma de realizar os Ritos e preparar os ingredientes, as palavras de encantamento, e muito mais.

Terminado isso, passamos a estudar a Cerimônia Ritual em si, isto é, o Ritu­al de Celebração (aquele que reúne toda a Irmandade). Começamos pelo Cerimo­nial “normal”, aqueles que são feitos semanalmente. Há outros Ritos que são específicos para determinados períodos do ano, e também as Festas. Estes foram abordados mais tarde.

Com relação à Cerimônia Ritual aprendemos o significado de cada peça, cada etapa, cada postura, cada gesto, cada palavra, cada encantamento, de forma muito incisiva. Estudamos também muito a fundo a respeito do uso das ervas e a confecção das poções.

Era bom compreender tudo aquilo. Sabíamos agora porque se fazia cada coisa. Era uma diferença crucial, mais ou menos como o médico e a enfermeira: esta última executa ordens muitas vezes sem saber porque o faz. Mas o médico é o detentor do conhecimento, dos detalhes, da profundidade. E todos nós, como “Médicos da Magia” tratávamos de aprender, absorver todo aquele conhecimen­to recheado de significados e simbolismos tão profundos!

Passávamos de duas a três horas estudando todas aquelas coisas durante duas noites por semana. E era muito diferente do jeito da Escola. Agora não haveria mais limites. O Oculto vinha sendo mais e mais descortinado. E a Magia tinha que ser entendida a fundo. Era necessário conhecer o âmago, a essência dela, os mínimos detalhes.

É óbvio que o processo era progressivo. Não se dá feijoada a recém-nasci­dos. E os mais adian

adiantados estavam ali com o propósito de auxiliar os mais jo­vens, pelo menos naquela etapa inicial.

Foi-nos dada também uma introdução do aramaico e do latim, o necessário para aquele período. A fluência em aramaico só é necessária a nível do sacerdócio.

Eu devorava tudo aquilo como alguém que tivesse que tirar o pai da forca! Queria aprender o máximo e o mais depressa possível.

Estudamos também História da Magia pois faz-se necessário conhecer a origem dos Rituais para compreender como eles se desenvolveram e porque são como são. Mas não ficamos apenas na História. Em se tratando de Magia às vezes usávamos como material didático alguns livros “internos”. Ou seja, nada que se encontre em livrarias. Aliás, nenhum deles podia sequer sair de lá. O Livro dos Mortos do Antigo Egito (mas não aquele que se encontra por aí), manuscri­tos antigos dos Druidas, dos Essênios, dos Babilônicos. Antigos Ritos africanos.

Os primórdios da Magia estavam contidos neles.

Passamos também por coisas bem mais contemporâneas associadas aos alquimistas e à Bruxaria da Idade Média.

Depois aprendemos, em pinceladas meio por alto, como foram os primórdios da revelação de Lucifér e como isto desenvolveu-se. Os povos politeístas adora­vam “deuses” sem necessariamente compreender a profundidade daquela dimen­são espiritual. Mas a “Igreja Satânica” organizada e estruturada, por assim di­zer, passou a existir no século XVI. No entanto, já na época dos Druidas no século V, foram lançados alguns princípios rudimentares.

Antes disso a presença de Lucifér não era explícita. Revelações pro­gressivas tiveram que acontecer aos poucos ao longo da História da Huma­nidade. Evidentemente que as informações não são 

repassadas de uma vez só, mas ao longo de milênios. Os ensinamentos recebidos das Trevas foram seguindo de geração em geração. Alguns Ritos foram preservados intactos desde os primórdios. Outros foram sofrendo alterações conforme o revelar das orientações do pai.

E hoje — ah! Tempo de glória! — hoje Lucifér explicitou a sua estratégia de forma cabal aos seus filhos. A Irmandade é detentora desta verdade, e trabalha assiduamente em prol dela. Sem dúvida... o Hoje é um tempo de muitos privilégi­os e regalias que os antigos almejaram, mas não alcançaram!

***

Naquele período eu me dediquei realmente de corpo e alma ao estudo. n A Irmandade tinha uma Biblioteca imensa e cheia de livros a que eu gradativamente ia tendo acesso. Cada vez mais eu podia ler volumes de Magia que não encontraria em livraria nenhuma do mundo. Tudo o que eu tinha passado tanto tempo procurando estava ali, finalmente, cada vez mais ao meu dispor.

Comecei a estudar, sozinho, sobre algumas hierarquias demoníacas, formas e tipos de Ritos, os grandes Bruxos da História e tudo o mais que me interessas­se. O Ocultismo que eu encontrava ali era muito diferente daquele divulgado na Sociedade. Era totalmente diferente, cheio de embasamentos. Verdadeiro. Aquela Biblioteca foi de inestimável valor no meu crescimento.

Mas o conhecimento maior certamente que vinha das reuniões do Conselho. Nessas ocasiões eu vivia um pouco da prática de tudo o que aprendia nos livros. Mais tarde vim a saber que a escolha dos membros de cada Grupo “Fire's sons” não era aleatória, mas cuidadosamente selecionada.

Eu convivia muito bem com os participantes do meu Conselho. Apesar de que todos eram pessoas 

singulares, naturalmente estreita-se relacionamento com alguns. Comecei aos poucos a conhecê-los melhor, saber de suas vidas, suas profissões, alguns dos seus encargos dentro e fora da Irmandade, etc.

E logo mais pessoas se me tornaram próximas além de Rúbia, Ariel, Górion e o próprio Zórdico.

Um deles era um homem de seus 40 anos, claramente árabe, falava um por­tuguês com certo sotaque e se vestia super esquisito. Seu nome era Aziz; e ele era professor de História numa Faculdade de muito renome. Claro que lá tinha muito campo de trabalho para ele. Foi inclusive autor de vários livros.

Um outro era egípcio. Aliás, seu pseudônimo era esse mesmo: Egípcio. Fora dos limites da Irmandade ele se utilizava da fachada de parapsicólogo. Dava palestras sobre esse assunto por todo o Brasil, e também sobre poderes da mente, radiestesia, hipnose, seres extraterrestres. Tudo nessa linha. Era sempre muito requisitado por escolas e Faculdades. Além disso, Egípcio era um sujeito muito forte no dom da persuasão. Falava muito pouco, ouvia muito. Mas quando fala­va, convencia quem quer que fosse do que quer que fosse!

Mas o que mais me chamava a atenção nele é que era um indivíduo frio. Tanto é que depois ele foi até drenado para fazer parte de um segmento da Irman­dade denominado de “Inquisitores”. Eram estes responsáveis pela vingança em todos os sentidos, quando isso se fizesse necessário. É muito difícil alguém cogi­tar em sair do Satanismo, nunca soube de ninguém, o caminho era mesmo sem volta. Mas às vezes ouvia-se falar de pessoas tentadas a desistir e voltar atrás. Esse grupo era encarregado de matar tais desertores.

Aliás, esse era um dos assuntos prediletos do Egípcio: ele gostava muito de falar sobre assassi

nato, sobre formas e mais formas de acabar com a vida alheia. Era inteligentíssimo.

Kzara era uma moça de características indianas, vestia-se como tal, e tinha mesmo nascido na índia. Era muito bela. Tinha a cor das indianas, o corpo cheio e bem torneado, com cabelos muito negros. Os olhos, de uma beleza singular, eram de um tom verde muito profundo. Tinha seus 23 anos e era uma peça estratégica em algo que, na época, não compreendi bem. E não vi qualquer vanta­gem naquilo. Algo sobre seduzir pessoas e levá-las ao adultério. Só vim a entender mais tarde.

De qualquer maneira o seu encanto não fazia efeito sobre nós, os homens com quem ela convivia. Ainda mais sobre mim, porque nesse caso tinha um fator a mais. Thalya era muito ciumenta! Eu nem podia conversar muito, perguntar coisas sobre a Índia como gostaria. Thalya já chegava me agarrando e fazendo algumas obscenidades. Kzara não se importava, ria muito, qualquer coisa era motivo para ela dar risada.

Havia outros colegas que estavam ali conosco naquele Grupo mas que não vieram a fazer parte do meu círculo de amigos mais próximos. Como por exem­plo o simpático rapaz de seus 30 anos, de nome Cerdic, norte-americano de ori­gem e que era, como Aziz, professor de conceituadíssima Universidade. Ou o casal de sotaque boliviano e aparência indígena que estava sempre muito bem vestido. Naion e Surama. Ele era alto e de boa aparência, um empresário bem sucedido. Ela, bem mais nova, estava ligada a um escritório de Advocacia.

Dentre outros.

No meu convívio semanal pude verificar logo de cara que problemas finan­ceiros não existiam, nem de saúde. Mas existiam problemas outros e estes eram solucionados sempre em conjunto. Nos Grupos de Conselho aprendíamos que a ajuda mútua era muito mais do que necessária, era uma questão de honra, um dever a ser exercido. E todo o bem recebido de alguém deveria ser retribuído 

nove vezes.

***

Meu relacionamento com Abraxas cresceu rapidamente. Eu o sentia clara­mente, já o tinha visto.. o  próximo passo era a comunicação verbal propriamente dita. De verdade! Só assim estaríamos de fato integrados para trabalharmos jun­tos.

A primeira vez que Abraxas falou comigo depois da Iniciação foi numa das reuniões do Grupo. Sempre que terminávamos os estudos havia um momento de confraternização em “família”. O clima de seriedade cedia lugar às brincadeiras e ao riso, aos papos informais, ao companheirismo mútuo que só entre aquelas pessoas eu experimentei de forma tão intensa.

Parece estranho dizer isto hoje... mas havia amor entre nós. Pelo menos eu via assim. E dentro do que eu conhecia e experimentara, aquele era um amor verdadeiro.

E foi no meio da brincadeira que Abraxas novamente me pegou de surpresa. Rúbia virou-se para nós, numa roda, e perguntou alto:

— Adivinhem que carta eu tenho na mão! — Os braços eram mantidos nas costas. — Vamos ver quem adivinha?

Naturalmente era um desafio para nós, os novatos. Para eles era muito sim­ples. Eu queria brincar também, de forma que procurei mentalizar do jeito que tinha aprendido na Escola. Só que... que injúria! Antes funcionava, a resposta aparecia na minha mente e eu sempre acertava. Mas agora... neca! Não estava mais funcionando.

— Que coisa! — Virei-me para Thalya. — Dava certo quando a gente fazia juntos a telepatia, e 

agora nada de nada! Puxa! Você também não está conseguin­do adivinhar?!

Marlon respondeu antes dela, observando-me:

— Agora é diferente, filho! Aquela era uma maneira grosseira e rudimentar de adivinhação. Servia apenas para demonstrar que o Poder existe e pode ser desperto. Mas agora você não precisa mais disso. Deve pedir àquele que dá “Po­der à sua força”.

Sem dar resposta, simplesmente obedeci. Pronunciei rápida e audivelmente as palavras de encantamento necessárias para chamar o meu Guia. E imaginei que talvez ele colocasse uma imagem na minha mente e eu pudesse saber qual era a carta. Mas foi aí que escutei — claramente! — no meu ouvido esquerdo:

— Ás de espadas!

Até assustei. Não era como um cochicho, nem um “eco mental”. Era uma voz mesmo, que falava bem dentro do meu ouvido. Clara. Alta. Perfeita. Sem a menor sombra de dúvida!

— Ás de espada! — Repeti imediatamente.

— Acertou! — Rúbia rodopiou nos calcanhares e mostrou a carta a todos. — Palminhas para Rillian!

Este era meu pseudônimo. Eu tinha tido que escolher um, Thalya também. Desde a Iniciação que já não éramos sequer mencionados como “Eduardo e Thalya”. Ela manteve um apelido que usava às vezes: Tassa.

Rúbia foi trocando e trocando as cartas e eu... ouvindo e ouvindo! UAU! Que coisa!!!!

Depois desse episódio passei a brincar muito com aquilo, parecia uma crian­ça com o novo passatempo. Levava o baralho aonde quer que fosse e vivia mos­trando a “mágica” aos meus amigos. 

Eles ficavam fascinados. E eu mais do que eles.

Abraxas passou a falar comigo constantemente, mesmo sem que eu o cha­masse. Era uma troca. Às vezes era ele quem tinha a necessidade de me falar, de incumbir-me de algo, orientar-me de qualquer forma. Sempre no ouvido esquer­do. Pelo visto ele gostava muito daquele lado. O ouvido direito parecia não exis­tir.

Foi mais ou menos nessa altura que voltamos a falar das Artes Mágicas no Grupo de Estudos. Só que o enfoque foi totalmente diferente. Tínhamos aprendi­do antes que as Artes Mágicas servem para desbloquear e potencializar capacidades mentais. Mas para nós — filhos do Fogo — realmente perdiam o valor. Um dia questionei com Marlon:

— Você mesmo disse que elas são rudimentares. No entanto... há algo mais por trás delas, certo?

— Rillian, na época da Escola parte do Oculto vinha lhe sendo revelado, mas ainda era tempo de ignorância. Vocês aprenderam um pouco de teoria e muito pouco de prática. Podemos dizer que naquela época você entrou em contato com a “periferia” do Oculto envolvido nelas. Agora temos que ir ao cerne da coisa, por assim dizer. Afinal... o domínio das Artes Mágicas é o início do aprendizado de todo bruxo. Mas é o início, apenas. Há muito mais além disso. Aos verdadei­ros bruxos em início de aprendizado elas têm certo valor pois permitem acesso à Entidades até o terceiro nível dimensional. Ou seja, demônios de patente muito baixa. Por exemplo...lembra-se da transferência bioplasmática? Vocês não apren­deram quase nada sobre isso. É o que se conhece vulgarmente por Vodú. Mas a transferência bioplasmática, ou bioplasmódica, é uma prática muito rudimentar. A técnica em si é o meio pelo qual se pode alterar o biocampo de alguém. Na verdade é um pequeno Feitiço. Através dele você está invocando uma Entidade e faz com que ela se utilize da sua própria energia para interferir com a energia da pessoa que você quer atingir. O enfraquecimento desse campo energético 

causa predisposição a uma série de alterações, principalmente doenças. O boneco Vodu nada mais é do que uma sinalização. Uma espécie de “endereço” para orientar a aproximação dos demônios. É até ridículo pensar nisso agora. Com o desenvol­vimento de Alta Magia a sinalização torna-se totalmente descartável.

— Está vendo? É o que eu digo. Esta é a questão que me incomoda! Por que tanta ênfase em práticas que não são necessárias de fato? Quer dizer, eu não preciso jogar cartas ou ler a mão de alguém para saber tudo sobre ela. Basta perguntar ao Abraxas. Não preciso de perfumes, incensos ou jogos de luzes colo­ridas para influenciar quem quer que seja. E talvez em breve não seja necessário fazer um bonequinho de ninguém para atingir essa pessoa. Agora tenho contato direto com meu Guia. Essas técnicas passaram a ser meio da “Idade da Pedra”, não? Por quê, então... gastar tanto tempo com elas? Por que voltar a falar nelas?!”

— Você tem razão. As Artes Mágicas são a forma mais “inocente” de Magia que existe. Aliás, nem podemos chamar a isso de Poder! Para o mundo leigo até pode ser, mas para nós... está muito aquém disso. Porque agora, como filhos do Fogo temos mais privilégios. Muito mais do que antes. Esse é um fato. Entenda o seguinte: você não precisa realmente das Artes Mágicas... concorda?

Nem precisei pensar:

— Não!

Marlon riu:

Você mesmo já respondeu sua pergunta. Qual é a dúvida?

— Como assim?!...

— Você já respondeu. Não precisa das Artes Mágicas para seu uso pessoal. Pois não é através 

delas que o Poder vem. Então, logicamente que o conhecimen­to e uso delas não se destina a você. — Ele olhou para mim com um piscar de olhos. — Não é simples? Para nós — Satanistas — elas não são “fim”! São “meio”. Úteis, sim, mas nunca para nosso próprio benefício e crescimento. No ponto em que nos encontramos hoje, excetuando a Numerologia cabalística, as Artes Má­gicas são puras “ferramentas de engano”!

Logo minha curiosidade foi saciada. Marlon pigarreou e tocou a mão em meu ombro, segurando-me firme.

— Eduardo, é tempo de você compreender o seguinte. Muitos são os objeti­vos quando somos escolhidos por Lucifér. Um deles, naturalmente, é o prazer de gozar a vida em total plenitude. Você tem sido chamado para isso, para deixar de lado regras estúpidas, dogmas, preconceitos, mediocridades, prisões das mais variadas. E abraçar a Liberdade! Tornar-se filho do Fogo é  tornar-se um ser livre, completo e pleno. Este é o objetivo do pai, mas não é o único. Fomos chamados com um propósito claro e este segundo objetivo é tão importante quanto o primeiro: você foi chamado não apenas para ser um filho das Trevas, mas um guerreiro das Trevas. Você é filho do Fogo...e guerreiro do Fogo! E para ser guerreiro... é preciso treinamento! É preciso saber manejar as armas, é preciso estar capacitado para atender plenamente ao recrutar do general. As Artes Mági­cas “puras”, as nove raízes, podem ramificar-se em outras infinitas práticas que também vêm a causar influência. Estas também são chamadas de Artes Mágicas. Nessa ramificação aparece de tudo um pouco e a diversidade nas práticas é muito grande. Mas decrescem em Poder.

Aquilo lançava entendimento sobre muita coisa. No começo minha mente não tinha conseguido compreender bem aquilo. Por que esta gama imensa de técnicas, essa “rede” invisível tremendamente abrangente, permeando tudo e to­dos? É fácil perceber que quanto maior o número de tentáculos que 

englobam uma Sociedade, mais fácil é obter domínio abrangente sobre ela.

E — isto me surpreendeu - vim a saber que em relação às nove raízes, os pilares, há quase que plena necessidade das Entidades para realizá-las. Isto é, a sua prática requer muito pouco do ser humano. Foi então que comecei a compre­ender melhor as experiências que tinham sido feitas na Escola. Ao mexermos com as Artes Mágicas puras, mesmo sem saber estávamos já entrando em conta­to com os demônios. Mas era um contato inconsciente. Muito diferente do que acontecia agora. Comecei a perceber porque Zórdico era tão enfático em dizer que “tudo seria provado”. De fato... estava sendo.

— Comecemos do princípio. — Disse Marlon. — É tempo de compreender isto plenamente. Recapitulemos o que você já sabe: as Artes Mágicas têm por objeti­vo alcançar a plenitude da potencialidade: é o que os indianos chamam de “Prana”, os chineses de “Tao”, os japoneses “Satori”, e por aí vai. Chame do que quiser:

Absoluto, Perfeição, Êxtase, Clímax, Platô! Na Escola você aprendeu um pouquinho mais sobre isso, que parte do potencial adquirido vem através dos Guias. Nas reuniões específicas, ainda na Escola, um pouco mais do Oculto foi revelado: os Guias, as Entidades, são espíritos, demônios valentes que creram na causa de nosso pai, Lucifér. E que habitam em outras dimensões. Assenti afirmativamente. Marlon continuou:

— E agora, como Iniciado, você sabe um pouco mais ainda: é simples até demais. O contato direto e profundo com os Guias fez com que, para nós, as Artes Mágicas se tornassem dispensáveis como “ferramentas de crescimento” mas, como “ferramentas de engano” são armas de que dispomos. Você percebe como é diferente isso que estou te dizendo? Para os “órfãos”, aqueles que não têm o mesmo pai que temos, que estão à deriva no mundo, a Arte Mágica tem um fim em si mesma! É a 

prática pela prática mas, para nós, é mais do que isso. Porque percebemos, sabemos, foi-nos revelado o verdadeiro motivo para o qual foram criadas. Engano! Sabendo disso, que dispomos dessas armas para um fim específico... então devemos conhecê-las e usá-las. Porque para nós foram cria­das. Não para os “órfãos”!

— Se não foram criadas para os órfãos, como fica isso? Há pessoas que não fazem parte da Irmandade mas que praticam algumas destas Artes apenas por praticar... há até mesmo os que crêem de verdade nisso e fazem desta “arte” um negócio!

— A grande maioria destas pessoas pensa que domina alguma coisa, ou que tem um dom especial. Na verdade elas é que são dominadas, porque são fracas e vazias. São apenas instrumentos descartáveis, influenciados por demônios sem sequer o saberem na maioria das vezes, e que contribuem para o nosso próprio propósito. Porém para eles não há nunca privilégios de filhos, porque não são filhos. Arderão no Inferno dos Órfãos. — Respondeu Marlon com seriedade e firmeza. — Para começo de conversa a teoria a que eles têm acesso não aponta para a realidade. Qualquer um pode dominar princípios astrológicos de fundo de quintal, aprendidos em manuais sem fundamento. Mas não terão muito mais do que isso. No entanto o caminho à mente deles está aberto. Quando vocês inicia­ram as práticas adivinhatórias no período da Escola muitas respostas “apareci­am” na cabeça. Vinham de onde? Dos demônios acessados nas dimensões supe­riores. A diferença entre vocês e os indivíduos ignorantes é que vocês sabem, agora, o que ocorria. Eles... nem isto! — Marlon tornou a repetir enfaticamente: — Tais pessoas são meros instrumentos de Lucifér para ajudar a alcançar os seus objetivos. São peças sem valor, “órfãos”...que pensam que sabem, mas não sa­bem nada. Fracos, inexpressivos, totalmente manipuláveis. O conhecimento real e profundo, toda a mecânica da coisa... é dado a poucos. Muito poucos. Nós, por exemplo! Aos demais é dada uma capacidade ilusória que 

visa puramente en­dossar ainda mais o erro.

Eu batia de leve uma mão na outra, com o semblante ligeiramente enrugado. Compenetradíssimo. Realmente... como tinha me passado pela cabeça que perde­ríamos tempo com o que não interessava??!

— Por que o que é a Magia, afinal? — Perguntou Marlon. — É a tentativa de criar-se um efeito tal que, aos olhos de quem vê, uma ilusão possa se apresentar como realidade. O efeito causado no expectador deve ser forte o suficiente para que ele fique literalmente “encantado”. Em outras palavras aquilo tem um im­pacto tão profundo sobre a sua mente que causa uma confusão da realidade. Ela se funde com a fantasia, e vice-versa, e para quem está encantado a fantasia torna-se real. Veja bem, é muito diferente de “loucura”. Quem está sob encanta­mento não está louco. Mas é que essa pessoa já perdeu a capacidade de discernir o que é imaginário do que não é. Já não sabe mais o que é...e o que não é. Quando digo que o encantamento faz com que se creia no falso... é o mesmo que dizer que houve um “engano”! Percebe? Lembre-se de que a revelação é progressiva, in­clusive para você. Então, aprenda. Parte, apenas pequena parte da Magia conti­nua sendo fruto das Artes Mágicas. Então, vamos conceituar novamente: tudo que produz uma ilusão capaz de fazer o ser humano distanciar-se da Verdade pré-estabelecida por Deus é conceituado como “Magia”. E o encantamento é o produto dela. Já os instrumentos usados para que a Magia se manifeste e cause o encantamento são vários: desde os mais rudimentares, como as Artes Mágicas, até os grandes Feitiços da Alta Magia.

Interessante aquele novo conceito. Lançava luz sobre novos horizontes... novos destinos!

— Faz sentido. É que eu ainda não tinha totalmente claro em minha mente tudo isso.

— Eu sei. Há tempo para todas as coisas. Até então você tem aprendido a ser filho. Agora é necessário ser um pouco além de filho... começar a ser guerreiro! Começar a usar a menor das armas, 

visa puramente en­dossar ainda mais o erro.

Eu batia de leve uma mão na outra, com o semblante ligeiramente enrugado. Compenetradíssimo. Realmente... como tinha me passado pela cabeça que perde­ríamos tempo com o que não interessava??!

— Por que o que é a Magia, afinal? — Perguntou Marlon. — É a tentativa de criar-se um efeito tal que, aos olhos de quem vê, uma ilusão possa se apresentar como realidade. O efeito causado no expectador deve ser forte o suficiente para que ele fique literalmente “encantado”. Em outras palavras aquilo tem um im­pacto tão profundo sobre a sua mente que causa uma confusão da realidade. Ela se funde com a fantasia, e vice-versa, e para quem está encantado a fantasia torna-se real. Veja bem, é muito diferente de “loucura”. Quem está sob encanta­mento não está louco. Mas é que essa pessoa já perdeu a capacidade de discernir o que é imaginário do que não é. Já não sabe mais o que é...e o que não é. Quando digo que o encantamento faz com que se creia no falso... é o mesmo que dizer que houve um “engano”! Percebe? Lembre-se de que a revelação é progressiva, in­clusive para você. Então, aprenda. Parte, apenas pequena parte da Magia conti­nua sendo fruto das Artes Mágicas. Então, vamos conceituar novamente: tudo que produz uma ilusão capaz de fazer o ser humano distanciar-se da Verdade pré-estabelecida por Deus é conceituado como “Magia”. E o encantamento é o produto dela. Já os instrumentos usados para que a Magia se manifeste e cause o encantamento são vários: desde os mais rudimentares, como as Artes Mágicas, até os grandes Feitiços da Alta Magia.

Interessante aquele novo conceito. Lançava luz sobre novos horizontes... novos destinos!

— Faz sentido. É que eu ainda não tinha totalmente claro em minha mente tudo isso.

— Eu sei. Há tempo para todas as coisas. Até então você tem aprendido a ser filho. Agora é necessário ser um pouco além de filho... começar a ser guerreiro! Começar a usar a menor das armas, 

à cabeça, não havia dificuldade. O passado era claríssimo; o presente nada além do óbvio; o futuro, no entanto... era mais vago mais difícil de interpretar. Então, eu “jogava dados”. “Plantava se­mentes”. Induzia.

Logo as histórias que Thalya e eu tínhamos para contar não chegavam mais ao fim tanto era o Poder de influência que passamos a possuir. E ficávamos ale­gres porque nos tinha sido concedido o privilégio de estar desviando pessoas de um caminho que pudesse — talvez — levá-las a Deus. Como já tínhamos aprendi­do, essa era a primeira forma de bem atender às determinações e vontades de Lucifér. Era o nosso primeiro passo para nos tornarmos guerreiros!

Tudo tem um preço. Disso nós sabíamos muito bem. Nosso relacionamento com os Guias não tinha “mão única”. Havia uma troca. Sempre! Nós pedíamos... eles atendiam... eles pediam... nós atendíamos. Parecia justo. Nós deví­amos nos agradar mutuamente.

Ficou muito claro que afastar as pessoas de Deus agradava a eles e a Lucifér. Como Iniciados nós não podíamos fazer muita coisa, mas as Artes Mágicas esta­vam ao nosso dispor para isso mesmo. O que, a princípio, já era o suficiente.

Eu tinha um ódio mortal de Deus, bem como todos os demais. E queríamos — como queríamos! — cumprir bem os desígnios de nosso pai. Queríamos ver quem podia mais! Quem constituirá o maior reino! Afastar o ser humano do Seu Criador já é uma afronta. É devolver o troco na mesma moeda pois Ele e os Seus escolhidos também têm afrontado a Serpente e os seus... desde o início!

Uma coisa, porém, é fato: nem todos são bons o bastante para virem efetiva­mente a ter a revelação do Oculto. E servirem ao príncipe deste mundo! Lucifér escolhe os seus... mas aos demais cabe a destruição. Que ficassem afastados de Deus!

Eu era feliz por ser digno de fazer parte do Exército das Trevas, por ter sido chamado. Agora eu 

sabia onde estava pisando. Como filho das Trevas eu tinha privilégios e como guerreiro, deveres. Queria cumprir bem o meu papel e agradar tanto ao meu senhor Abraxas quanto a meu pai Lucifér.

Em breve eu seria um guerreiro de Lucifér!

Aprendi que estávamos em Guerra. E Guerra é Guerra!!! Não se entra nela para perder. Os fins justificam, sim, os meios! Vale qualquer coisa, “quem pode mais... chora menos”!

Pouco nos importava que os que fossem desviados de Deus estivessem a caminho de um Inferno de horror e sofrimento. São “órfãos”. Sinal que não fo­ram escolhidos nem por um e nem por outro. São fracos, e o destino deles é a morte. Não servem a Deus... não servem a Lucifér... que mais lhes resta?!

Cada vez compreendia melhor aquela frase: “Poder à força, morte aos fra­cos”.

***

O episódio da Regina serviu muito bem para por em prática meus novos conhecimentos. Isto é, a arte do engano. Coisas assim passaram a acontecer com freqüência.

Essa foi também a primeira vez que Abraxas realmente foi enfático em me sinalizar o que queria.

Era uma manhã abafada apesar da brisa. Eu estava passando sozinho por uma rua pertinho de casa, no quarteirão de cima, aproveitando a sombra agradá­vel das árvores. Vi, de longe, uma amiga minha sentada na calçada em frente à casa dela. Estava acompanhada por uma outra moça que eu não conhecia. A Bia, minha amiga, me viu e acenou de longe, cumprimentando.

Retribuí ao aceno e foi então que senti o já costumeiro formigamento à es­querda, principalmente no rosto. Eu sabia que era uma espécie de “prenuncio”, um sinal de Abraxas. Imediatamente escutei bem claro:

— Vá até aquela moça. — Disse Abraxas. — O nome dela é Regina. Atravessei a rua em direção às duas.

— A mãe dela morreu há uma semana. — Continuou explicando ele na sua voz gravíssima, antes que eu chegasse perto. — Ela está inconformada com isto, está muito abatida. O nome dela é Regina...sabe o que quer dizer isso? Rainha! — E categoricamente: — Você precisa trazê-la para cá!

— Oi, Edu! — Exclamou a Bia. — Vem aqui!

Bia olhou para a mocinha ao lado e já foi explicando:

— Essa aqui é uma amiga minha, ela está passando uns dias comigo e... Não a deixei concluir:

— Eu sei. O nome dela é Regina, não é? . — Ué?! Vocês dois já se conhecem?

A moça olhou para mim meio que desconfiada e pouco disposta a bater papo:

— Acho que não. Nunca nos encontramos antes. — Fez ela com ligeiro mau humor. E diretamente para mim: — Você me conhece?

— Não te conheço, não. — E entrei de sola, cheio de sorrisos para ela. — Você sabe o que quer dizer “Regina”? Quer dizer Rainha! E isso torna você uma pessoa muito especial!

Ela ainda assim não respondeu e a Bia continuou, tentando salvar a situação:

— Pois é, Edu, a gente precisa juntar uma galerinha aí pra sair com a Regina esses dias. Ela está 

passando por uns momentos meio difíceis...

Interrompi de novo:

— Eu sei, Regina, como você está chateada. Perder alguém que a gente ama é terrível.... — Minha entonação de voz demonstrava pesar e eu olhava diretamente para a novata.

Dessa vez ela pareceu levar um pequeno choque e ergueu o rosto, franzindo a testa.

— Mas... você me conhece?!

— Não, eu já te disse isso. Mas eu sei que a sua mãe faleceu há uma semana. Não foi? E você está tremendamente transtornada com a morte dela.

Ela emudeceu e ficou me olhando, os olhos tristes demonstrando uma ponta de espanto e respeito. De repente, encheram-se de lágrimas e ela se descontrolou, chorando de dor por ter sido tão subitamente tocada na ferida recém aberta.

Eu continuei falando com brandura, ao mesmo tempo em que me inclinava, abraçando-a:

—  Mas, olhe, não fique triste. A sua mãe está agora num lugar muito bonito... um lugar lindo! E ela pediu que eu viesse aqui hoje e falasse para você que ela está muito bem, e que ela te ama muito. Que você pare de se preocupar com ela porque em breve vão tornar a se encontrar! — Eu improvisei um pouco, esperando dicas do Abraxas.

A Bia me olhava com assombro e sem conseguir formular uma frase. E Re­gina, chorando de soluçar diante de mim, não cessava de questionar:

— Mas, como? Como? Como ela falou com você?! Como você soube disto? —Bem, os mortos... eles se comunicam!

E escutei novamente a voz poderosa de Abraxas:

Traga ela para cá! — Ribombou no meu ouvido.

— Você quer conversar com sua mãe? — Perguntei gentilmente.

Ela procurou enxugar os olhos com o lencinho do qual certamente não se desvencilhou naqueles dias tão terríveis. E olhava-me com uma expressão estra­nha, como se eu fosse uma espécie de Buda dos tempos modernos, ou o salvador da Pátria. Alguém que podia oferecer-lhe o impossível.

— Eu tenho um amigo que psicografa. Ele pode entrar em contato com sua mãe.

A Bia se intrometeu, procurando ajudar:

— Imagina, Edu! É só depois de um ano que dá para entrar em contato. Retruquei explicitamente e com toda a segurança do mundo:

— Não é assim, não! Este meu amigo é super “elevado” espiritualmente. Ele psicografa na hora! Garanto! Eu já vi. Depois depende no nível espiritual da pes­soa que partiu, e a mãe dela já estava em um nível bem alto. Ela já tem autorização de imediato para se comunicar! — E olhando para Regina, novamente bati no ponto certo. — E ela está com saudades da filha!

Regina baixou a cabeça, pensativa. E Abraxas deu a dica novamente:

— Ela marcou um encontro de aconselhamento com um Pastor. — A voz dele transmitia um sentido negativo referindo-se ao Pastor. — Pastor Sálvio. Ela vai aconselhar-se com ele.

— Olha... — Meu tom de voz era brando, mas firme. — Não vai atrás de outra coisa, não! Dê ouvidos à sua mãe. Sabe o que você vai escutar daquele Pastor?

Ela estremeceu e passou a chorar compulsivamente dessa vez, cobrindo o rosto com as mãos. Nem a Bia entendia mais: — Pastor?!...

— Sim. O Pastor Sálvio. Você marcou um horário com ele, não foi, Regina? — Perguntei de novo.

— Mas a Igreja foi tão boa comigo e com minha família! — Ela quase gritava, querendo justificar-se mais a si mesma do que a mim. — Minha vizinha é evangé­lica, e quando mamãe... se foi... eles ajudaram tanto... cuidaram de tudo... do veló­rio, do sepultamento!... Ela foi até velada na própria Igreja! — Soluçava.

Percebi que Regina devia estar a um passo de sua conversão... àquele Deus hipócrita!!! Quebrantada como estava!

— Sabe o que aquele Pastor vai falar para você? Ele vai dizer que a sua mãe foi para o Inferno. Que você nunca mais vai vê-la! Que não há como se comuni­car com ela, que cartas psicografadas são coisas dos demônios!!! Escuta o que eu estou dizendo! Estes Protestantes... eles não acreditam nestas coisas. Eles estão cegos... perdidos! Não dê ouvidos a isso. — E continuei falando com docilidade, com brandura. Volta e meia eu ouvia o sopro de uma ou outra dica.

Não demorou muito mais tempo. Abraxas contou-me um detalhe que foi a conta:

— Pede para ela olhar na terceira gaveta da cômoda. A mãe tinha comprado um presente. O aniversário da Regina é na semana que vem! — Disse-me ele.

— Escuta. Na gaveta da cômoda de sua mãe, na terceira gaveta...

— A gaveta está trancada à chave e a chave está dentro do guarda-roupa!

— Escutei Abraxas dizer, no meio da minha frase.

— A gaveta está trancada, e a chave está dentro de um guarda-roupa... — Fui dizendo.

— Ah! Eu sei!! Acho que sei onde está! — Completou Regina ansiosa. — Mas o que tem?! O que é?

— A sua mãe, antes dela... bem, ela tinha comprado um presente para você, comprou antecipado! É seu aniversário na próxima semana, não é?

Regina chorava. E Abraxas esclareceu:

— A mãe dela morreu de repente. Morreu atropelada.

Estava tudo explicado. E Regina... quase decidida! Ao erguer novamente o rosto para mim seus olhos já diziam que ela faria como eu dissesse. Completei:

— Sua mãe me disse que gostaria muito que você abrisse o presente. Ela te ama muito. Não quer ver você sofrendo por causa dela. Não precisa mais estar triste. Que mais eu preciso dizer para que você acredite que falo a verdade?

Abraxas continuou:

— Olhos claros. Cabelo castanho escuro. Estatura média. Um brinco de pé­rola com ouro branco.

— Olha Regina, eu vi sua mãe. Eu não a conheci em vida, mas eu a vi. Ela tinha olhos claros, grandes, bonitos... um cabelo escuro, castanho escuro! Usava um par de brincos muito delicados... eram de ouro branco e havia uma pérola. Tinha mais ou menos a sua altura. Esta não é sua mãe?!? — Eu fechava os olhos como se estivesse vendo, mas na realidade estava ouvindo. — Eu estou vendo ela! Ela está bem aí ao seu lado. E quer falar com você!

Regina estava profundamente sensibilizada com o que ouvira, abalada até, totalmente quebrantada.

— E além disso... sua mãe não quer nenhuma missa de sétimo dia, não! — Falei, mas por falar, apenas para poder acrescentar logo a seguir: — E também não quer que você vá conversar com nenhum Pastor. Ela quer que você fale dire­tamente com ela!

— Tá bom, tá bom! — Gritou Regina. — Eu vou! Como é que eu faço? Aonde eu tenho que ir? Mamãe, querida mamãe! Como é que eu faço? — A choradeira continuava, a tristeza estampada no rosto e no olhar.

A batalha estava ganha. Sorri intimamente, procurando acalmá-la, sempre com muito carinho e respeito:

— Fique tranqüila. Procure se acalmar que tudo vai sair bem!

E realmente ela foi comigo, como Abraxas determinara. Levei-a à casa de Ariel. Uma das “ferramentas fortes” dele era o espiritismo. Eu havia ligado para ele durante a semana para marcar um encontro com Regina.

— Eu recebi uma ordem de Abraxas para trazê-la para cá. — Expliquei a ele.

— Tá bom. Trás ela aí que a gente conversa! Então eu a levei tão logo possível.

— Realmente tinha um presente na cômoda... — Disse ela tão logo me viu novamente. — E eu não fui ao encontro com o Pastor Sálvio. Não marquei para outra data também.

Ariel disse-lhe um monte de coisas, todas certeiríssimas. Até escreveu-lhe um bilhetinho da “mãe”. Com a letra dela! E Regina saiu de lá encantada com o que vira e ouvira. Ariel havia terminado o encontro com a orientação:

— Sua mãe está dizendo que você deve freqüentar tal e tal lugar! — Deu-lhe o endereço de um centro espírita Kardecista, conforme foi orientado pelo seu próprio Guia. — Você deve estar lá. 

Aquele é seu caminho. Você vai preparar-se, desenvolver-se, crescer em mediunidade. E, em breve, você poderá ver sua mãe. Em algum tempo atingirá este potencial e ela poderá aparecer para você. E não haverá mais necessidade de intermediários, como eu!

Minha missão estava cumprida.

Era tudo tão palpável... tão certeiro... pegou-a no momento certo... e no ponto certo!

Pelo que soube depois, por meio da Bia, realmente ela estava freqüentando o tal centro. E largou mão da Igreja Evangélica!

***

Várias semanas mais tarde cruzei novamente com Regina. Estava passando novamente perto da casa de Bia que, para variar, me acenou da janela do seu quarto, no segundo andar. Parei para uma conversa rápida. A Regina estava lá outra vez. Desta feita ela fez muita questão de conversar comigo, estava diferen­te.

— Você me ajudou muito... nossa, como é que você sabe todas essas coisas?

— Tudo é uma questão de oportunidade... e de aprendizado. Começamos a conversar. Ela me olhava, olhava diferente, não tirava os olhos de cima de mim.

Abraxas ainda me disse, em dado momento:

— Ela te agrada?

— Bom... ela é bonita. — Respondi, baixo, apenas para que ele escutasse.

Regina tinha o cabelo louro abaixo dos ombros e olhos tremendamente ver­des. Não foi preciso 

que ele dissesse mais nada, eu sabia que se a quisesse, esta­ria disponível. De fato, ela se insinuou muito. Me perseguiu com o olhar durante toda a noite. E a Bia facilitou tremendamente as coisas, lá pelas tantas deixou-nos sozinhos. Até a mãe dela fez de tudo para que eu ficasse:

— Dorme aí, pode subir. Fique à vontade!

Eu aproveitei e fomos mesmo para o quarto, eu e Regina. Conversamos bastante, rimos, cantamos. Dava para perceber que ela estava fascinada comigo e louca para maiores envolvimentos. Quando ela forçou a barra, me fiz de besta enquanto deu. Mas como ela não deu paz, tive que ser mais direto:

— Regina, não vale a pena. — Falei olhando fundo nos seus olhos. — Não faça nada de que você possa se arrepender amanhã.

— Você não quer? — Ela foi bem explícita. — Não me acha bonita?

— Você ainda está muito carente e a gente nem se conhece. Deixa rolar a amizade, se tiver de ser, vai ser.

E fiquei por lá até umas sete da manhã. Desconversei e fui mesmo embora. Apesar do que Abraxas me dissera, eu não a queria. Tinha minha liberdade. Mais tarde comentei com Marlon o verdadeiro motivo da minha recusa:

— Fiquei com pena dela... ela parecia tão triste ainda!

Foi uma das poucas vezes em que Marlon irou-se comigo: — Pena?! Pena?!! — Ele ficou bravo de verdade. — Que sentimento mais pri­mitivo! Podia ser qualquer outro motivo, Eduardo! Os filhos do Fogo são os escolhidos, o resto...sabe o que é o resto? Puro excremento! Não valem nada! O que são na ordem das coisas para que mereçam a sua pena?! Engrossar o reino de Lucifér é despovoar o 

Reino de Deus, e isso é o que de fato importa! E despovoar o Reino de Deus não significa fazer a todos filhos do diabo, entende, meu filho? Lucifér escolhe apenas os melhores, ele quer para si uma raça pura! Parta sempre do seguinte princípio: se duas nações poderosas estão em conflito, e uma delas consegue dividir a outra em quinhentas partes, já está ótimo! Não é necessário que as quinhentos partes sejam englobadas à nação mais poderosa. Deu pra en­tender?

***